A doença bipolar afecta entre 1% e 6% da população da União Europeia e tem um enorme peso social, incluindo o risco de morte prematura por suicídio. O seu diagnóstico incorrecto, ou tardio, pode levar ao atraso do tratamento adequado (substancialmente diferente da depressão “simples” ou unipolar) e ao prolongamento do sofrimento do indivíduo e dos impactos sociais.
A perturbação bipolar (também chamada doença maníaco-depressiva), é uma doença psiquiátrica grave, que causa mudanças extremas do humor, da energia e do funcionamento geral. Caracteriza-se por ciclos de depressão alternando com episódios maníacos (ver figura). Uma outra forma de apresentação é a presença de episódios mistos, em que são encontrados simultaneamente critérios diagnósticos tanto para depressão como para mania ou hipomania.
A hipomania tem os seguintes sintomas:
Elevação leve mas persistente (vários dias) do humor, da energia e da actividade
Sentimento intenso de bem-estar e de eficiência física e mental
Aumento da sociabilidade, do desejo de falar, da familiaridade e da energia sexual
Redução da necessidade de sono
A concentração e a atenção podem estar comprometidas, diminuindo a capacidade de se fixar no trabalho, relaxamento e lazer
Pode existir o envolvimento em actividades de risco ou gastos excessivos leves
Os sintomas não levam a perturbação marcada do funcionamento profissional ou a rejeição social
Os sintomas de mania são os seguintes:
Elevação do humor persistente (pelo menos uma semana) desproporcional às circunstâncias do indivíduo, podendo variar de uma jovialidade descuidada a uma excitação praticamente incontrolável
Aumento da energia, levando à hiperactividade
Desejo intenso de falar
Redução da necessidade de sono.
Distractibilidade intensa
Aumento da auto-estima com ideias de grandeza e o sobrestimar das suas capacidades.
Perda das inibições sociais, podendo levar a condutas imprudentes, irrazoáveis, inapropriadas ou deslocadas
Pode existir envolvimento em actividades de risco ou gastos excessivos
Os sintomas perturbam o ritmo normal de trabalho (ou escolaridade) e as actividades sociais
Para além disto nos quadros mais graves pode observar-se:
Ideias delirantes (em geral de grandeza) ou alucinações (por exemplo, ouvir vozes)
Agitação intensa ou actividade motora excessiva
O pensamento pode assumir a forma de “fuga de ideias” (os pensamentos fogem, não consegue pensar numa coisa de cada vez) de uma gravidade tal que o sujeito se torna incompreensível ou inacessível a toda comunicação normal
A doença bipolar continua a ser mal entendida, quer pelo público em geral quer pelos médicos. Muitas vezes uma criança bipolar é diagnosticada como tendo uma perturbação de conduta ou uma perturbação de défice de atenção e hiperactividade, tentativas de suicídio de adolescentes com doença bipolar são atribuídos a “desilusões amorosas”, a “crises de adolescência” ou a abuso de substâncias.
Trata-se de uma doença psiquiátrica, as variações de humor são diferentes dos “altos e baixos” normais da vida de todos os indivíduos e são severos ao ponto de prejudicar as relações com os outros, perturbar o funcionamento escolar ou profissional ou mesmo, levar ao suicídio. Habitualmente, a doença bipolar tem o seu inicio na adolescência tardia, no entanto, alguns doentes têm os seus primeiros sintomas na infância. Tal como a diabetes ou a doença cardíaca, trata-se de uma doença crónica que tem de ser tratada ao longo da vida. Apesar disso, quando tratados com sucesso, os doentes bipolares podem levar uma vida normal e plena.
Diogo Guerreiro 2009