Ir pela primeira vez a uma consulta de Psiquiatria é algo que mete medo a muitas pessoas. É muito comum ouvir na primeira consulta frases como: “Nunca pensei em vir a esta especialidade...” ou “Não sei o que estou aqui a fazer“. É também comum doentes que remarcam continuamente a sua primeira consulta, como que esperando “aumentar a coragem” para enfrentar esse estranho ser: o Psiquiatra.
Mas porque é que isto acontece?
A maioria das pessoas não tem receio de ir a médicos de outras especialidades, embora estes casos existam e aí estamos perante a chamada iatrofobia (medo intenso e irracional de ir a médicos – uma fobia específica enquadrada nas perturbações de ansiedade).
Os problemas de Saúde Mental estão entre as doenças mais comuns:
Estima-se que cerca de 16% da população adulta tenha uma doença mental.
5% sofrem de doenças afectivas (incluindo depressão), 9% de perturbações de ansiedade e 0,5% de perturbações psicóticas.
Portugal continua a ser um dos países com maior consumo de álcool per capita do mundo.
A utilização de drogas é ainda muito comum, sendo a cannabis a substância mais utilizada (com média do começo de uso com 14 anos e prevalência de utilização ao longo da vida de 12%).
(dados retirados de: Portugal | Who Country Summary)
Se assim é, o que causa este constrangimento em ir ao Psiquiatra?
Bom, começar a ser seguido por um psiquiatra é um grande e positivo passo para resolver o seu problema de saúde mental. No entanto existem alguns medos e preconceitos comuns, na sua maioria injustificados:
“E se ele me diz que os meus problemas não são nada de especial?” – o medo de se expor de uma forma muito pessoal e ser desvalorizado ou ridicularizado é muito comum, este medo está muitas vezes associado à vergonha de estar a sofrer de uma doença mental. Mas, na realidade, não existe técnico mais treinado que o Psiquiatra para por a pessoa à vontade e qualquer bom profissional irá valorizar as queixas do doente que está à sua frente.
“Vai-me dizer que não há nada a fazer!” – muitas pessoas tem esta ideia errada que as doenças mentais não tem tratamento. Isto é falso, na maioria dos casos é possível fazer algo para ajudar, quer através de técnicas mais psicológicas, quer através de terapêuticas farmacológicas. Nas últimas décadas a Psiquiatria evoluiu de uma especialidade em que pouco se podia fazer para uma em que conseguimos efectivamente controlar os sintomas.
“O Psiquiatra vai-me deixar drogado e incapaz de funcionar.“- no passado os medicamentos utilizados para tratar as doenças mentais tinham muitos efeitos secundários, entre os quais a sedação. Hoje em dia a evolução dos fármacos foi muito grande e os efeitos secundários são muito menos. A grande ideia é funcionar melhor e não pior, e sabemos que as doenças mentais afectam muito o rendimento.
“Não posso ser visto no Psiquiatra!” – infelizmente isto também é muito comum. O preconceito e o estigma ainda são muito frequentes na nossa sociedade. Do meu ponto de vista as pessoas não deveriam sentir isto por recorrem à especialidade indicada à doença que têm, no entanto isto acontece de facto. Todas as pessoas que trabalham na Saúde tem regras éticas muito estritas, uma delas é a confidencialidade! O caso dos doentes nunca será do domínio público, fiquem descansados. É interessante que habitualmente quando as pessoas passam por uma experiência de seguimento psiquiátrico (sua, de amigos ou de familiares) deixam de estar preocupadas com isto.
“O problema sou eu, sou fraco e tenho de resolver isto sozinho.” – vejo muitos casos em que as pessoas chegam à minha consulta já em fases muito avançadas da sua doença, muitas vezes “com a vida de pantanas” devido a este pensamento. Saber pedir ajuda é uma das mais importantes virtudes do ser humano. Estar doente não é ser fraco, é simplesmente estar doente… Passava-lhes pela cabeça não pedir ajuda quando se está a ter uma apendicite!?
Então e finalmente quando as pessoas chegam ao Psiquiatra?
Frases que me dizem frequentemente no final da consulta:
“Afinal isto não é tão difícil como imaginava!“
“Fez-me bem falar destes assuntos, saio daqui com mais esperança.“
Ou o clássico: “O Dr., para Psiquiatra, até é muito normal!“
Quando finalmente o doente vai ao Psiquiatra o que acontece é o que acontece em todas as consultas médicas: estabelece-se uma relação médico-doente, faz-se uma história clínica e exame objectivo, colocam-se hipóteses diagnósticas e discute-se o plano de tratamento/ seguimento. Tão simples quanto isso! Na maioria dos casos o doente melhora e… deixa de sofrer de “Psiquiatrofobia”!
Dr. Diogo Guerreiro